segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Que se abram os portais...



   "Ventos do oeste, vós que clamais pela liberdade das almas perdidas, que seus ventos conduzam nossas emoções àqueles que amamos, mas se foram... Fogueiras sagradas, choro ao teu clamor pelas almas que se foram em vão; aqueçam os espíritos dos que lamentam a ida dos amados... Rios da vida e da morte, vós que carinhosamente conduziram os perdidos, tragam-nos nessa noite quem amamos, para que com eles nos alegremos, dancemos e celebremos... Mãe Terra, poderosa senhora da construção e destruição, obrigado por sempre nos lembrar de que o hoje é essencial, pois amanhã podemos não mais estar aqui; mas, depois de amanhã, quem sabe? retornaremos àqueles que tanto nos fizeram felizes... Abençoados sejam seres da vida e da morte, que nossa dança eterna se renove em mais um ano."


  Se a proposta aqui é falar sobre o que mudou a minha vida, nada mais justo que hoje, meus olhos, intento, coração e espirito se voltem àqueles que passaram pela minha vida e me moldaram... Pessoas que se foram dessa vida; outras que se mantêm, mas sumiram nas brumas; outras que tenho o prazer de ver o brilho dos olhos quase todos os dias.
   Pois bem, a vida aqui, nessa era, com este formato é só uma, devemos aproveita-la ao máximo... E é isso que a noite de hoje, Samhain, vem nos ensinar!
   Poderia listar uma serie de livros e filmes que nos mostrariam estas temáticas: " viva a vida", "celebre os que se foram, seus antepassados", "Faça dessa vida a melhor possível"...
   Mas deixo a cada um que venha a ler este texto, que façam uma reflexão sobre a sua própria vida, sobre a dos seus antepassados, dos que vieram antes nós, daqueles que ainda estão aqui ou dos que já se foram... Tenho certeza que daria um ótimo roteiro de filme, livro ou o que quer que seja.
   Acendam uma vela, façam orações, bebam, dancem, sei lá... Celebrem a vida junto aos mortos.
   Que a alegria de estar vivo e que o amor e calor circulante em nossas veias nos preencham nessa noite mágica.

  
 "E que se abram os portais... Que venha um novo ano". 
   Feliz Samhain e ano novo para todos!!!



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Almodovariemos... Parte 2 "A Visita"

  Voltemos um pouco no tempo... retomemos o inacabado; dessa forma, chegamos a Almodovariemos - Parte 2, A Visita.
     Pensei muito em qual seria o próximo Almodóvar que entraria neste blog. Como está se aproximando o dia das crianças, nenhum melhor que "Má Educação" ou "La mala educación".
   É difícil escrever sobre um filme tão intenso, completo e que principalmente, causa um bolo no estômago e garganta de quem vê. 
    Só que fica mais fácil, quando olhamos o panorama atual das coisa: "Pedofilia" em forma de piada discutida em programa de segunda à noite, gays agredidos em plena rua, desenhos animados tomando conta de redes sociais, feministas se sentindo rebaixas por propaganda de lingerie...
    Estamos levando a vida muito a sério... uma maneira de melhorar isso é assistindo à um bom filme, como esse por exemplo (apesar de sua temática forte).
   Má Educação conta  a história de Enrique e Ignacio (Isso à principio), sendo que essa história é contada, indo e voltando no tempo e de perspectivas diferentes (prefiro assim colocar para não estragar o filme). A metalinguagem é uma das características desse filme, assim como de outros filmes de Almodóvar, já que Enrique esta filmando "A visita", história baseada nas vivências dele e Ignacio durante um período em que estudaram num internato católico e da relação de amor entre os dois. Relação esta que causa todo o conflito dos filmes, Má educação e A visita. 
   Chega de tentar contar o filme, né? Vocês têm que assistir... Rsssss
   O filme traz o delicioso Gael García Bernal de uma maneira que nunca esperei ver... Ok, foi a primeira vez que o vi, mas mesmo assim fique chocado, excitado e com cólicas de tanto que ovulei. Rssss

      Mas é sério, o filme é de uma inteligência notável, trilha sonora cremosíssima, atores no ponto exato e um roteiro INCRÍVEL!!!
   Dizem que essa poderia ser uma obra inspirada em certos aspectos da própria vida do Almodóvar... Fofocas à parte o filme é bem amarrado, bem contado, mais uma vez trás personas incríveis como o Paquito (Javier Cámara); reparem em sua performance na "buatche" e em sua cena sentado em frente ao cinema...

    Quem, assim como eu, tiver um gosto mais aguçado por cenas "tipo pornochanchada", reparem na cena de "sexo" com o "dorminhoco" (sinceramente não sei como descreve-la); é uma das mais reais que já vi, fora  The Brown Bunny e Nove canções... Que com certeza serão outras publicações aqui!!!
    Pois bem, Má educação é um filme de 2004, mas só tive conhecimento dele em 2005, enquanto cursava Artes Cênicas na UFG (Universidade Federal de Goiás), foi uma época mágica e cheia de descobertas na minha vida; Descobertas da sexualidade, do amor e do ser diferente....
   Voltamos assim ao começo do texto... Devemos aprender a conviver com as diferenças. Diferentes opiniões, diferentes tipos de comédia (um pouco menos ácida e mais bem executada), diferentes posicionamentos políticos, diferentes maneiras de viver e ser feliz!!!
   Não importa se tudo se trata de uma má educação ou apenas o caso de uma visita, o que importa é tentar manter-se sempre caminhando, juntos ou separados, mas se respeitando.  


domingo, 2 de outubro de 2011

Os Barcos e Os Caminhos


   Em tempos idos, um garoto resolveu que queria navegar pelo misterioso mar. Como não tinha conhecimento para isso, foi a procura de quem o sabia!
   Depois de um tempo encontrou um grupo que diariamente faziam expedições mar adentro e à eles acabou se juntando. O grupo era guiado por um casal de velhos viajantes que conheciam os sete mares. Sempre que possível transmitiam-lhes seus valiosos conhecimentos sobre o mar.
   Certo dia o velho viajante revolveu ensinar algo ao garoto e questionou-o sobre o que ele faria em caso de uma tempestade em alto-mar. O garoto por sua vez, apaixonado pela nova vida que vinha levando, afirmou que nunca abandonaria o barco, independente do que acontecesse. O velho, então curvou-se, abaixou os olhos à terra, levantou-os ao ar e depois, mirou profundamente o mar, como se destes lugares quisesse ver algo, mas somente disse: " Na hora certa veremos o que vai acontecer, depois voltaremos a conversar, isso se nos for permitido pela Rainha do Mar..."
   O tempo passou e o garoto começou a ganhar experiência em como navegar pela sua paixão, o mar. Ele aprendeu a sobreviver à pequenas tempestades, vezes caindo do barco e sendo içado de volta; vezes segurando firme até que a tempestade passasse.
   Mas a fúria dos ventos e das tempestades resolveram assolar o barco de tal forma, em uma de suas viagens, que a imagem que se tinha era de puro caos... alguns dos navegantes pularam ao primeiro sinal da tempestade, outros seguraram-se o máximo que puderam; já o garoto, perdido em meio aquela imagem aterradora do mar em fúria resistiu enquanto pode, mas ao ver que o barco estava se desfazendo, resolveu pular no mar...
   O barco se desfez e alguns dos navegantes partiram para outros planos...
   Quando a tempestade começou a passar e o dia se fez claro outra vez, o garoto se viu agarrado à um pedaço de madeira que outrora fizera parte do barco, sendo jogado pelas ondas do mar.
   Depois de um tempo sozinho naquele grande mar, o menino começo a se perguntar o que teria acontecido aos seus companheiros e irmão de viagem, imaginava se mais alguém estaria como ele, vivo, perdido, agarrado à um pedaço do que sobrou do barco... Mas o tempo, nada de novo revelou.
   Logo o garoto chegou a uma praia, de onde, sem energia, não conseguiu mais sair...
   Mais uma vez, o fabuloso tempo passou... Neste período o garoto sentava-se à beira da praia e pensava em entra no mar, mas tinha medo e faltava-lhe uma coisa: O barco. Por dias ele chorou ali, na areia áspera da praia, chorando pelo que perdeu, pelo seu amado barco, pelos seus companheiros, por uma vida feliz que ele nunca mais poderia ter, mas principalmente, pelo mar, sua eterna paixão, traiçoeiro como a serpente escondida no profundo do coração dos homens...
   As únicas coisa que ele tinha daquele período tão feliz de sua vida, eram os conhecimentos e um pedaço de madeira que insistia em mostrar-lhe o quanto ele fora feliz!
   Pobre do garoto!!!
   Quem sabe um dia ele perceba que é impossível juntar os pedaços do barco e remontá-lo; é impossível reunir todos os seus companheiros... Mas que é possível, sim, montar um novo barco, superar o medo do mar bravio e juntar novos companheiro; e quem sabe ele, um dia, será o velho que ensinará à garotos como ele, sobre o brilho maravilhoso e traiçoeiro do mar, das emoções e da importância de se ter e cuidar bem de um barco, porque quando ele se parte e afunda no Mar, ele estará, para sempre, perdido...
   Será?

   A todos que um dia tiveram uma família que mudou a sua vida, mas por diferentes motivos os caminhos se afastaram...
   Amados de minha tradição, aos que vieram antes de mim, meu eterno obrigado pelo caminho partilhado, que um dia, nesta, ou em outra vida, possamos nos encontrar... Lembrem-se, existe somente um início e um fim, o resto, são só caminhos!!!
   Abençoados sejam todos

PS (quase 3 anos depois) : Hoje sei que quem tem asas não precisa de barco. Quem é livre, não precisa nem de corpo.