domingo, 6 de novembro de 2011

Almodovariemos... Parte 3 - Loucura nas Entranhas

   Quando fico sabendo que vem por aí um novo filme do Pedro Almodóvar eu fico insano. E isso o Júnior pode confirmar... Mas algo que ele só soube nesta última sexta, foi a ligação religiosa que tenho com a obra desse gênio que é o Almodóvar.

   Explicando melhor: Na maioria das religiões tem-se que passar por um rito para se alcançar a sublimição do Ego e assim alcançar o Divino. É assim comigo quando se trata de alguns filmes, mas neste caso ficou muito mais evidente.

   Nesta sexta resolvi assistir "A Pele que Habito"... Eu tinha estágio à tarde e aula durante a noite. Resolvi então matar aula. Pois bem, após o estágio passei em casa, ao sair, a tranca da moto estragou (morri em R$45, fora o tempo para a instalação); Depois disso, um mosquito entrou no meu olho esquerdo (nem precisa dizer que fiquei com um desconforto do cara*** nesse olho), o pneu da moto furou e o celular não funcionava para eu poder ligar para o Jr. Traduzindo: Tudo estava fudendo e pelo visto eu não conseguiria ver o filme.
   Mas tudo se resolveu e pude depois de "muita luta" me deliciar com mais um Almodóvar.
    Dessa forma trago a vocês "A pele que Habito"!!!
   Se estão esperando mais um comentário do tipo "o que acontece no filme" desistam agora mesmo, é sério! Não será este o foco desta postagem. (Rsss)
    Almodóvar, deixou de ser um diretor para se tornar uma referência estética, quase uma franquia; nesse novo filme a essência da estética permanece, mas o "frescor" e o inovação se fazem presentes. Os dramas femininos relacionados à mulheres falantes, insanas, apaixonalas e lutadoras das últimas obras, dão lugar à loucura e insanidade do ser humano, tanto homens quanto mulheres.
    Quem não conhece os conceitos de Id, Ego e Superego  deveriam estudá-los antes de assistir ao filme (fica a dica). Todos estes conceitos estão presentes, mas principalmente o Id, mostrando o cerne do ser humano e de sua loucura.
   Como diz a personagem Marilia (Marisa Paredes) em certo momento do filme: "A loucura esta nas minhas entranhas". Essa é uma verdade que quase ninguém quer ver ou notar; somos todos insanos, loucos, voyeurs e um pouco depravados. Queria sinceramente que a maioria dos que assistiram ou vão assistir a este filme tivessem esta impressão... já não seria
mais só eu a sentir isso, né?

    Esteticamente falando, notem como os quadros renacentistas se mesclam a quadros de pintura moderna e por fim à imagem de um monitor. Observem as cores usuais sendo usadas nos locais certos, mantendo a estética do suspense sem perder a característica almodovariana de colorir a cena. Muitos outros pontos poderiam ser levantados, mas isso deixaria de ser um post para ser uma monografia (Rssss).
   
   Como já disse a essência humana está muito presente e alguns personagens podem ser observados pelo olhar da psicologia. O "El tigre", personagem puro instinto, animalesco, Id puro (confesso que fiquei com um certo tesão numa cena deste personagem); O médico Robert Ledgard (Antonio Banderas) e seu Ego enlouquecido e sem auxílio do superego, firmado na crença que permeia erroniamente a sua classe de que: "eu sou Deus"; A capacidade do homem de superar as adversidades e, pelo menos tentar, adequa-las ao seu cotidiano; a fuga e o recalque da personagem Vera (Elena Anaya) ao escrever nas paredes na tentativa de manter sua integridade emocional, mas principalmente a sua identidade. (Quase uma tese de psicologia)
   
   Identidade essa que é o foco principal do filme. Somos quem realmente somos, ou queremos ser? Quando nos olhamos no espelho o que vemos? Somos o que está refletido naquela imagem ou somos muito mais do que um amontoado de ossos, músculos, vasos sanguíneos e pele? Somos a pele que habitamos ou apenas habitamo-na? Ficam as perguntas... Cabe a cada um de nós respondê-las.


   Se nesse percurso você se encontrar com a loucura existente no mais fundo do olhar... Seja bem vindo ao clube dos que tem a loucura nas entranhas